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A máquina do tempo

O universo da adoção de cães, em meio às aulas da especialização em luto, nos aproximou. Alguns anos – e várias trocas sobre peludos – depois, recebi o convite para prefaciar este livro.

É a partir da vivência pessoal da passagem do tempo de seus filhos caninos que Lou escreveu A Máquina do Tempo. A intensidade visceral de seu sofrimento diante da perda de alguns de seus cães contrasta com a leveza da narrativa da história de Maria e seu cachorro Charlie.

A familiaridade de Lou com o mundo infantil (ela tem filhos humanos também!), sua vivacidade e alegria emolduram temas densos como a finitude e o medo. A Máquina do Tempo se debruça sobre o delicado instante em que vislumbramos a morte de alguém querido no horizonte. Chamado tecnicamente de luto antecipatório, constitui o processo de (procurar) se preparar para a perda, aparar arestas, manifestar afetos e despedir-se.

Este livro é uma ferramenta útil para que pais, cuidadores e educadores possam conversar com a criança que tem um animal idoso ou adoecido. Favorece uma abordagem clara e amorosa sobre o assunto, o que permite maior capacidade de enfrentamento. A empatia da mãe de Maria ao longo da história, nos ensina a validar as emoções e sentimentos dos pequenos, assim como legitima o vínculo entre essas duas espécies. O livro oferece abundante estímulo para conversas com as crianças sobre as delícias e responsabilidades de se ter um bichinho. E ainda sobre valores como lealdade, reciprocidade, fidelidade, companheirismo, acolhimento, amor, dedicação e cuidado.

Não se deixe enganar pelas belas ilustrações, contudo! O livro dialoga com os adultos também!

O protesto de Maria – “Por que você teve de envelhecer? Não é justo!” ressoa conosco. Remete à nossa dificuldade de aceitar o ciclo da vida, a impermanência de todas as coisas e todos os seres. Lembro de minha perplexidade quando a médica veterinária receitou ração sênior para meus gatos! Nossa necessidade ancestral de previsibilidade e aconchego é lindamente atendida pelo convívio com animais de estimação. Somos feitos para nos vincular, não para perder! – aprendi em uma aula sobre luto. Nosso protesto é profundo, como o de Maria. Dolorido… Como é duro perder quem amamos!

O desejo de Maria voltar no tempo, para além da onipotência infantil, nos leva a refletir sobre como fazemos uso desse recurso. O que fizemos, o que nos escapou, em nossa história e nossos relacionamentos? O que faríamos diferente se tivéssemos consciência do fim? O que faltou viver ou falar? A partir dessa revisão, podemos reparar o que foi (internamente já vale!) e, mais importante, escolher como viver o agora.

A história de Maria e Charlie, ainda traz para os holofotes a temática do cuidar versus salvar, tão cara à classe médica. Todo tutor gostaria de poder salvar seu bichinho, chamando a mãe e ficando de ponta-cabeça para resgatá-lo do poço do fim de vida. Salvar às vezes não é possível. Cuidar sempre é, até o último suspiro.

A história nos convida a pensar sobre a reciprocidade em nossas relações. Maria expandiu sua maneira de ver Charlie, quando abandonou seu desejo de mantê-lo jovem, atendendo às suas expectativas de brincar, correr e diverti-la. Compreendeu que agora precisaria cuidar das necessidades que chegaram junto com seus pelos brancos. Talvez Maria tenha entendido que a vida é feita de movimento. De ir para fora e interiorizar. Correr e se aquietar. E tenha entendido que o amor é devoção, é desejar o melhor para o outro, mesmo que isso signifique vê-lo ir embora.

Certa vez ouvi de uma tutora enlutada que os animais de estimação são bebês que envelhecem. Que definição exata para sua perspectiva, pensei. Não é justo! – certamente acrescentaria Maria!

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A máquina do tempo

O universo da adoção de cães, em meio às aulas da especialização em luto, nos aproximou. Alguns anos – e várias trocas sobre peludos – depois, recebi o convite para prefaciar este livro.

É a partir da vivência pessoal da passagem do tempo de seus filhos caninos que Lou escreveu A Máquina do Tempo. A intensidade visceral de seu sofrimento diante da perda de alguns de seus cães contrasta com a leveza da narrativa da história de Maria e seu cachorro Charlie.

A familiaridade de Lou com o mundo infantil (ela tem filhos humanos também!), sua vivacidade e alegria emolduram temas densos como a finitude e o medo. A Máquina do Tempo se debruça sobre o delicado instante em que vislumbramos a morte de alguém querido no horizonte. Chamado tecnicamente de luto antecipatório, constitui o processo de (procurar) se preparar para a perda, aparar arestas, manifestar afetos e despedir-se.

Este livro é uma ferramenta útil para que pais, cuidadores e educadores possam conversar com a criança que tem um animal idoso ou adoecido. Favorece uma abordagem clara e amorosa sobre o assunto, o que permite maior capacidade de enfrentamento. A empatia da mãe de Maria ao longo da história, nos ensina a validar as emoções e sentimentos dos pequenos, assim como legitima o vínculo entre essas duas espécies. O livro oferece abundante estímulo para conversas com as crianças sobre as delícias e responsabilidades de se ter um bichinho. E ainda sobre valores como lealdade, reciprocidade, fidelidade, companheirismo, acolhimento, amor, dedicação e cuidado.

Não se deixe enganar pelas belas ilustrações, contudo! O livro dialoga com os adultos também!

O protesto de Maria – “Por que você teve de envelhecer? Não é justo!” ressoa conosco. Remete à nossa dificuldade de aceitar o ciclo da vida, a impermanência de todas as coisas e todos os seres. Lembro de minha perplexidade quando a médica veterinária receitou ração sênior para meus gatos! Nossa necessidade ancestral de previsibilidade e aconchego é lindamente atendida pelo convívio com animais de estimação. Somos feitos para nos vincular, não para perder! – aprendi em uma aula sobre luto. Nosso protesto é profundo, como o de Maria. Dolorido… Como é duro perder quem amamos!

O desejo de Maria voltar no tempo, para além da onipotência infantil, nos leva a refletir sobre como fazemos uso desse recurso. O que fizemos, o que nos escapou, em nossa história e nossos relacionamentos? O que faríamos diferente se tivéssemos consciência do fim? O que faltou viver ou falar? A partir dessa revisão, podemos reparar o que foi (internamente já vale!) e, mais importante, escolher como viver o agora.

A história de Maria e Charlie, ainda traz para os holofotes a temática do cuidar versus salvar, tão cara à classe médica. Todo tutor gostaria de poder salvar seu bichinho, chamando a mãe e ficando de ponta-cabeça para resgatá-lo do poço do fim de vida. Salvar às vezes não é possível. Cuidar sempre é, até o último suspiro.

A história nos convida a pensar sobre a reciprocidade em nossas relações. Maria expandiu sua maneira de ver Charlie, quando abandonou seu desejo de mantê-lo jovem, atendendo às suas expectativas de brincar, correr e diverti-la. Compreendeu que agora precisaria cuidar das necessidades que chegaram junto com seus pelos brancos. Talvez Maria tenha entendido que a vida é feita de movimento. De ir para fora e interiorizar. Correr e se aquietar. E tenha entendido que o amor é devoção, é desejar o melhor para o outro, mesmo que isso signifique vê-lo ir embora.

Certa vez ouvi de uma tutora enlutada que os animais de estimação são bebês que envelhecem. Que definição exata para sua perspectiva, pensei. Não é justo! – certamente acrescentaria Maria!