Ele me convidou para contemplar a noite. Em cima da máquina de lavar, que era onde costumava tomar sol. Estranhei. Mas logo percebi que as coisas mudariam dali em diante. Meu gato recebera o diagnóstico de ‘envelhecimento repentino’. Isso mesmo. Tornou-se idoso e frágil em semanas.
Estava com tempo para ele, para nós, e aceitei seu convite. O frescor noturno e o silêncio emolduraram nosso encontro. Assim que me aproximei, ele tombou a cabeça na direção da minha e mergulhamos naquele toque por instantes. Em puro estado de presença. Aquilo foi inédito. E significou tantas coisas para mim! Cumplicidade, intimidade, o amor mútuo reassegurado. O que terá significado para ele?
Naquele momento não refleti. Somente inspirei a beleza daquele gesto incomum. Só mais tarde entendi que a cena poética retratava uma despedida. A plenitude que senti segue me alimentando até hoje. Cada encontro pode ser despedida. A gente nunca sabe.
Este ano acolhi vários tutores que perderam seus animais de estimação repentinamente, sem oportunidade de dizer adeus. Imagino qual a última imagem guardam daquelas histórias de amor por findar. Talvez o antídoto para nossa completa falta de controle sobre o destino seja viver cada momento, inteiramente, no agora. Escolher melhor como fazemos uso do tempo. Valorizar o simples e essencial. Os bichos sabem disso muito bem. Se você prestar atenção, eles nos mostram a todo momento! Minha Murci cutuca quando me distraio com o celular ou estou trabalhando demais. Yasmin me ensina a parar para olhar as flores. De que forma o seu bichinho de estimação te inspira a viver melhor? Dá para incluir isso na sua resolução de ano novo?